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APOCALYPTO

Pode-se amá-lo, ou odiá-lo, mas uma coisa é certa: Mel Gibson é coerente com a sua história. Eu diria que ele também é sádico, mas será que o homem, de uma forma geral, também não o é?


Com exceção de A Paixão de Cristo que eu só assisti a alguns pedaços, os blockbusters anteriores de Mel Gibson por trás das câmeras têm uma linha narrativa comum: o "homem pacato", que vive a sua vida em família tranqüilamente até que "os bárbaros" chegam para atrapalhá-la. A partir de então, tudo o que esse "homem pacato" busca é vingança contra o(s) seu(s) opressor(es) para poder voltar à sua vida anterior. Assim como escocês Willian Wallace de Coração Valente durante a ocupação inglesa e o estadunidense Benjamin Martin de O Patriota durante a guerra da independência dos EUA, o nosso "homem pacato" é Pata de Jaguar, integrante de uma pequena e isolada tribo maia que tem a sua vida mudada quando mercenários invadem a sua aldeia em busca escravos e de corpos para sacrifícios humanos na sede do império. Um outro típico personagem gibsoniano é o "bárbaro sádico". Aquele que já matou a namorada escocesa e o filho estadunidense, agora mata o pai do nosso "homem comum". Para esse personagem, matar é um prazer, enquanto que para o heróí gibsoniano, a vingança nada mais é do que legítima.

Corte para a "civilização", aonde cabeças rolam escadaria abaixo e corações são levantados para a patuléia em êxtase abaixo e para o deus sol Kulkulkan. No momento em que Pata de Jaguar é levado para o altar do sacrifício ele diz que ainda não chegou a sua hora, pois tem que resgatar sua mulher grávida e o seu filho pequeno que ele havia conseguido esconder num buraco dos "bárbaros" antes da devastação de sua aldeia.

Graças a um eclipse, um povo altamente desenvolvido - porém supersticioso - como os maias acredita que o deus do sol havia se baqueteado de sangue suficiente. A partir de então, começa a história do nosso "homem pacato" que não pensa duas vezes em sobreviver e resgatar a sua família. Num certo momento, mais precisamente após uma bela cena num poço de piche, o instinto de sobrevivência desencadeado pelo medo dá lugar à sede de vingança. É a transformação do "homem pacato" no "homem primal", que usa o seu habitat contra os invasores. Abelhas, dardos envenanos, armadilhas para antas... um a um, os inimigos vão tombando.

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Atenção: a partir de agora, eu comento a cena final do filme, que pode estragar a surpresa que ela representa caso você ainda não o tenha visto.

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É um blockbuster, mas ao mesmo tempo, é um filme cheio de metáforas (acho que estou me especializando nesse assunto) e nesse sentido, a cena final, com a chegada daqueles que dizimariam não apenas os maias, como também os astecas e os incas é mais do que providencial para dizer que todo império chega ao seu apogeu, mas a partir de então, entra em decadência até que um outro império toma o seu lugar. A Pata de Jaguar e sua família, resta se embrenhar na floresta e rezarem para nunca serem encontrados.

A violência explícita do filme me incomodou demasiadamente, mas o paralelismo com o mundo atual, para um economista, é imediato. Não há mais jugulares laceradas por machadinhas de pedra lascada ou buchos perfurados por balas atiradas graças à pólvora, criada pelos chineses, mas utilizada com fins bélicos pelos fascistas europeus. Agora, é a sociedade do consumo quem dita as regras.

Cuidado com a China, gringos...


A
Apocalypto (Mel Gibson, EUA, 2006)
Quando: janeiro/07 (UCI Recife)
Site Oficial: www.apocalypto.com

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