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BABEL

As conseqüências de se viver em um mundo globalizado?



Como economista, eu vejo todos os sistemas como um conjunto de relações interligadas. Caso o sistema esteja em equilíbrio, qualquer mudança em uma das variáveis pode trazer conseqüências para todos os outros. Alguns poderão absorver o solavanco, outros não. Em Apocalypto, de certa forma, tem início a globalização, com a chegada dos espanhóis no "Novo Mundo".

Em Babel, a globalização já está estabelecida e tudo se desencadeia com um caçador japonês que entrega o seu rifle de presente a um guia marroquino. Por sua vez, esse guia marroquino vende essa arma para um pastor de cabras. Os filhos desse pastor, inocentemente, testam o alcance do rifle num ônibus de turismo. No ônibus de turismo, há um casal estadunidense de férias tentando reaviver seu casamento após a morte de um dos seus filhos. A esposa leva o tiro do rifle. Eles terão que ficar mais tempo no Marrocos e não poderão voltar para a sua casa antes do casamento do filho da babá de seus filhos. A babá decide, então, levá-los consigo para o México.

O primeiro filme de Iñárritu que eu vi foi 21 Gramas e achei-o interessantíssimo pela forma de narrativa de três histórias, aparentemente desconexas e de forma não-linear, mas que estão totalmente correlacionadas. Depois que eu fui assistir a Amores Brutos é que descobri que esse era o original e o seu "irmão" estadunidense era, na verdade, uma "cópia melhorada". A fórmula já dá sinais de desgaste, pois Babel segue a mesma linha e não traz nada de novo com relação aos dois anteriores, apenas cenários diferentes e mais grandiosos, que ao invés de se passarem em um bairro/uma cidade, se dá em três continentes diferentes. Entretanto, há detalhes interessantíssimos ao longo do filme e há a história ambientada no Japão, que valem o ingresso e nem me fizeram perceber que havia se passado quase 2h30.

Nunca mais verei as luzes de Tóquio da mesma forma depois de Lost in Translation e me senti levado de volta à sua atmosfera quando a adolescente nipônica, que rouba o filme, sai com seus amigos depois de uma "viajada" proporcionada por um comprimido e umas doses de uísque pela noite de Tóquio.

Na parte marroquina, destaco a atuação da polícia do país, que bate até receber as respostas que gostaria, se beneficiando da falta de instrução de seus agredidos. Ela também prefere atirar antes de prender. Algo tão corriqueiro numa grande cidade ao sul do Equador também é prática no Marrocos.

Na parte mexicana, destaque para a tensão na fronteira entre os EUA e o México e a humilhação sofrida por algum chicano que deseja entrar na "terra das oportunidades". Sair é fácil, agora entrar...

Na parte japonesa, destaque para a adolescente, que procura o seu lugar no mundo testando seus limites. Ela só queria ser amada e a cena final, belíssima, encerra de forma legal um filme que, despido de todas as pretensões (ou alegadas pretensões apontadas pela crítica) é um bom entretenimento.

As simplificações "turista estadunidense leva tiro no Marrocos, logo, é um ato terrorista", "pais perdem um filho e depois, a mãe é baleada longe da tecnologia estadunidense e corre risco de vida", "mexicano tenta entrar nos EUA, logo, está trazendo imigrantes ilegais", "mexicana ilegalmente nos EUA há 16 anos faz uma única besteira e é expulsa" e "jovem japonesa surda vê a mãe morta com um tiro, logo, ela é problemática" podem ter gerado polêmica, mas como eu não vivo num mundo tão preto-ou-branco, elas não me soaram pretensiosas. Apenas fiquei indiferente ao carregadíssimo melodrama e as sucessões de tragédias.

Também não vou analisar a "falta de comunicação", o "fatalismo", a "inocência", a "incompreensão" ou o possível paralelismo entre esse filme de Crash. Deixo isso para os mais chatos e detalhistas. Agora, se o diretor quis discutir as diferenças culturais, chocando-as umas contra as outras, posso afirmar que ele errou feio. Assim como errou ao entrelaçar as histórias. Isoladamente, e sem analisar as simplifações, eu daria "A" para a história japonesa (tanto que é a única que não tem a sucessão infinita de tragédias) e "B" para a mexicana e a marroquina.


B-
Babel (Alejandro González Iñárritu, EUA, 2006)
Quando: Janeiro/07 (UCI Recife)
Site Oficial: www.paramountvantage.com/babel

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