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A CRIANÇA

Duas crianças e um bebê


Em países como o nosso, aonde a gente só se lembra que há um Estado quando ele vem cobrar seus impostos, retribuindo mal e porcamente serviços sociais inclassificáveis, há um "inconsciente coletivo" de que na Europa, as coisas são diferentes. Lá eles são ricos entediados que não dão real valor ao Estado Social de eles possuem.

Entretanto, mesmo em países com uma distribuição de renda infinitamente mais igualitária que a nossa, também há famílias desestruturadas de cabelos loiros e de olhos azuis. Inclusive na Bélgica, o coração da Europa Unificada.

Bruno vem de uma dessas famílias e para ele, a vida se resume a pensar em qual vai ser o próximo trambique que ele fará em troca de alguns trocados. Quando sua namorada é internada para ter a criança do título do filme, ele subloca o apartamento deles. Na verdade, fica difícil descobrir quem é a criança do título, o bebê ou os pais, que continuam com as mesmas brincadeiras de como se ainda tivessem 7 anos de idade.

Quando ela volta, não pode entrar em casa. Os dois vão para um albergue. O dinheiro do aluguel? Bruno já gastou comprando uma jaqueta. Para que poupar? Ele sempre arranja uns trocados vendendo jóias, câmeras, filmadoras, tocadores de mp3s. Basta uma ligação.

Sonia se torna uma mãe carinhosa e zelosa, mas Bruno mal dá atenção ao pequeno Jimmy. Num desses dias, enquanto estavam numa fila para o seguro social, Bruno sai para passear com o pequeno Jimmy enquanto Sonia fica. No meio do caminho ele tem a idéia do próximo trambique: vender o filho. E vende, sem a menor dor na consciência, afinal de contas, eles podem fazer outro normalmente.

Só que Sonia não pensa dessa maneira e o filme se desenrola com Bruno tentando reaver a criança. Ele consegue o pequeno Jimmy de volta e pede desculpas pensando que tinha apenas cometido um pequeno deslize como, por exemplo, ter vendido um anel de valor sentimental para Sônia. Ele não consegue entender porque ela não consegue perdoá-lo, pois o bebê já está de volta às mãos da mãe.

Apesar de ter cometido um ato inimaginável para nós, que temos casa, comida, roupa lavada e um teto, Bruno não é vilão. Ele é alguém como nós, apenas com valores e pontos de vista diferentes, fruto de um país desigual, mesmo que esse país fique na rica Europa.

O final, fica em aberto. Será que ele realmente se arrependeu? Será que ele tomou consciência do que fez? Será que ela o perdoou? Será os dois se amam realmente? Será que o futuro para os três é promissor?


B+
L'Enfant (Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, BEL/FRA, 2005)
Quando: Outubro/06 (UCI Recife)
Site Oficial: www.sonyclassics.com/thechild

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