Um road movie especial e único.

Eu morava em João Pessoa quando esse filme chegou pelas bandas de lá. Tão "sem alarde" chegou, foi embora e eu só descobri na semana seguinte ao folhear um jornal antigo. Felizmente, ele foi escolhido como o representante brasileiro ao Oscar e re-estreou em algumas capitais, Recife inclusa.
Na década de 1940, Johan é um alemão que vem parar no Brasil fugindo da guerra. Mais precisamente, ele está no sertão nordestino vendendo "a solução para todos os males": a Aspirina. Enquanto conduz seu caminhão pelas áridas quebradas nordestinas, vai dando carona para quem pede e um desses, Ranulpho, aceita trabalhar para ele para poder seguir o seu sonho: fugir do nordeste com direção ao Rio de Janeiro.
Ranulpho questiona o "patrão" sobre a maneira dele conseguir vender algo novo para um povo avesso ao que é estranho. As "armas" do galego são um projetor de cinema e uma lona, aonde ele passa cenas da cosmopolita São Paulo dos anos 40 entrecortadas com propagandas da pílula que se diz ser a solução de todos os males.
O filme é tão cheio de pequenos detalhes, cada um tão importante quanto o outro que eu poderia fazer um texto enorme e mesmo assim correria o risco de esquecer algum. Seja do cara que vende comida caseira, seja da mulher com a galinha (ela é creditada assim nos créditos finais, juro!). Tem também aquela cena, quando Ranulpho tenta de todas as formas chamar a atenção de uma moça, que só tem olhos para o galego. E a frustração dele no dia seguinte? Impagável!
Também é difícil colocar em palavras o sentimento de Ranulpho de querer fugir da miséria e da falta de perspectiva e o de Johan de não querer voltar para o seu país, pelo medo de morrer numa guerra na qual ele não acredita.
Interessante é uma cena quando os dois já "tomaram todas" e Johan diz que se eles estivessem num campo de batalha, estariam em lados opostos. Aí ele diria para os seus colegas alemães "tá vendo aquele alí? Reclama de tudo". Já Ranulpho, para seus companheiros, diria "tá vendo aquele galego alí? Ele acha que tudo é interessante, tudo é interessante. Ôxi!" E cai de bêbado depois de reclamar que o alemão não sabia brincar por tê-lo matado com uma espiganda imaginária.
No dia seguinte, Johan já decidiu: vai tentar a vida na Amazônia como seringueiro para não ser deportado. O destino de Ranulpho é outro e eles se despendem na estação de trem, cada um rumando para o seu destino.
E você fica com um aperto no coração. Aquele mesmo aperto que você sente quando se despede de um amigo que não verá por um bom tempo.
A+
Cinema, Aspirinas e Urubus (Marcelo Gomes, BRA, 2005)
Quando: Outubro/06 (Cinema da Fundação)
Site Oficial: www2.uol.com.br/urubus
Na década de 1940, Johan é um alemão que vem parar no Brasil fugindo da guerra. Mais precisamente, ele está no sertão nordestino vendendo "a solução para todos os males": a Aspirina. Enquanto conduz seu caminhão pelas áridas quebradas nordestinas, vai dando carona para quem pede e um desses, Ranulpho, aceita trabalhar para ele para poder seguir o seu sonho: fugir do nordeste com direção ao Rio de Janeiro.
Ranulpho questiona o "patrão" sobre a maneira dele conseguir vender algo novo para um povo avesso ao que é estranho. As "armas" do galego são um projetor de cinema e uma lona, aonde ele passa cenas da cosmopolita São Paulo dos anos 40 entrecortadas com propagandas da pílula que se diz ser a solução de todos os males.
O filme é tão cheio de pequenos detalhes, cada um tão importante quanto o outro que eu poderia fazer um texto enorme e mesmo assim correria o risco de esquecer algum. Seja do cara que vende comida caseira, seja da mulher com a galinha (ela é creditada assim nos créditos finais, juro!). Tem também aquela cena, quando Ranulpho tenta de todas as formas chamar a atenção de uma moça, que só tem olhos para o galego. E a frustração dele no dia seguinte? Impagável!
Também é difícil colocar em palavras o sentimento de Ranulpho de querer fugir da miséria e da falta de perspectiva e o de Johan de não querer voltar para o seu país, pelo medo de morrer numa guerra na qual ele não acredita.
Interessante é uma cena quando os dois já "tomaram todas" e Johan diz que se eles estivessem num campo de batalha, estariam em lados opostos. Aí ele diria para os seus colegas alemães "tá vendo aquele alí? Reclama de tudo". Já Ranulpho, para seus companheiros, diria "tá vendo aquele galego alí? Ele acha que tudo é interessante, tudo é interessante. Ôxi!" E cai de bêbado depois de reclamar que o alemão não sabia brincar por tê-lo matado com uma espiganda imaginária.
No dia seguinte, Johan já decidiu: vai tentar a vida na Amazônia como seringueiro para não ser deportado. O destino de Ranulpho é outro e eles se despendem na estação de trem, cada um rumando para o seu destino.
E você fica com um aperto no coração. Aquele mesmo aperto que você sente quando se despede de um amigo que não verá por um bom tempo.
A+
Cinema, Aspirinas e Urubus (Marcelo Gomes, BRA, 2005)
Quando: Outubro/06 (Cinema da Fundação)
Site Oficial: www2.uol.com.br/urubus
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