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CACHÉ

Sorria! Você está sendo filmado.


"Caché", em bom português, significa "escondido" e se encaixa como uma luva no enredo desse filme sobre uma família parisiense "típica" que tem a sua rotina mudada depois que ela começa a receber fitas mostrando a fachada de sua casa. Depois, são enviados desenhos e têm início os trotes telefônicos.

O protagonista da história, uma personalidade pública, é o apresentador de um programa de televisão e tem algo escondido em seu passado, que vem à tona na medida em que ele vai desvendando as pistas que o voyeur vai enviando. Parece que ele não é o único a esconder um segredo, pois no meio do filme, o filho adolescente do casal de protagonistas começa a desconfiar (ou melhor, ele tem certeza) de que a mãe também está escondendo algo, um caso extra-conjugal.

Eu já gostava do cinema francês reflexivo, com enquadramentos amplos e longas seqüências que te faziam pensar sobre a vida (depois de aprender francês e de passar por Paris, adicionei à lista a possibilidade de escutar novamente o idioma e a expectativa de rever paisagens conhecidas). Nesse filme, o clima pesa justamente porque você não sabe o que é verdade, o que é mentira. O que é realidade, o que é fantasia. Assim como até hoje eu acredito que Capitu não traiu Bentinho em Dom Casmurro, não acho que a mãe traiu o marido, apesar de que há uma cena bem dúbia num Café. O suposto voyeur, que conhece o protagonista, insiste em dizer que não é ele que está enviando as fitas. A mulher acredita nele. Eu, nem tanto... apesar de não poder afirmá-lo com certeza.

Há nem tão muito tempo, vimos o ódio exacerbado entre os franceses "puros" e os habitantes da periferida, majoritariamente habitada por imigrantes ou descendente de imigrantes das ex-colônias francesas, a ponto de um importante ministro chamá-los de "a escória". Na Copa do Mundo, a cabeça de Zidane trouxe à tona novamente o problema racial de uma França aonde um dos lemas da revolução de 1799, a égalité (igualdade), não é tão igual assim hoje em dia.

A história se desenvolve, levando à reflexão uma França que ainda não aceita os argelinos, sobre um país aonde duas pessoas trilharam caminhos opostos em razão das oportunidades que foram negadas a um deles.

Há um clima à la David Lynch nas fitas de vídeo aonde são mostradas cenas de dentro de um carro em movimento e a câmera andando por um corredor até uma porta. Há também uma cena muito forte, que provocou uma sensação desconfortável em mim. Não por causa da sua gratuidade, mas justamente porque eu não tenho certeza se ela foi realmente gratuita.

Essa e outras dúvidas persistem até o final (aparentemente) feliz onde tudo se resolve.

Ou não.


A
Caché (Michael Haneke, FRA/ÁUS/ALE/ITA, 2005)
Quando: Ago/06 (UCI Recife)
Site Oficial: www.sonyclassics.com/cache

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