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ÁRIDO MOVIE

Uma viagem. Em todos os sentidos da palavra.


O último filme nacional que eu tinha visto antes dessa viagem alucinógena, entre outros locais, pelo sertão pernambucano tinha sido Irma Vap, O Retorno (06). Me lembro de ter saído desconfortável da sala de projeção, pois o filme foi legal, mas sem "alma". Foi um filme totalmente fechado, pasteurizado. Sabe aqueles acrobatas muito bem treinados que não sorriem? Então, fiquei me perguntando se esse era realmente o cinema nacional que a "sociedade" demandava.

Dando uma olhada nas bilheterias, vi que não. Fiquei um pouco aliviado, mas nem tanto pois o campeoníssimo de audiência desse ano é Se eu Fosse Você (06). Noves fora o casal de protagonistas estar na (então) novela da oito, meu desconforto aumentou ainda mais, assim como o descrédito com a produção nacional.

Felizmente, Árido Movie está aí para me contradizer, assim como seus conterrâneos nordestinos Amarelo Manga, Cidade Baixa, Cinema, Aspirina e Urubus e Madame Satã (só para citar os mais recentes). Longe dos estúdios pasteurizados e das estrelas globais de primeira grandeza, há todo um cinema "pobre" em recursos, mas riquíssimo em idéias.

Divagações à parte, vamos falar a respeito do filme sobre o ilustre filho da cidade de Rocha, no sertão pernambucano, que volta à cidade natal para o enterro do pai. O roteiro básico, ou melhor, o fio condutor da trama esta aí. Agora, a "gordura" que o roteirista impõe ao longo do filme é, por si só, várias viagens.

O road movie é protagonizado pelos três amigos maluquinhos (e maconheiros) do protagonista, responsáveis pelas principais cenas do filme, como aquela no bar do Zé Elétrico (José Dumont) dançando Renato e seus Blue Caps com a luz azul com bolinhas cor de creme. Tem também "O Velho", objeto principal do documentário que Soledad, a personagem de Giulia Gam, está fazendo e é magnificamente interpretado por Zé Celso Martinez Corrêa.

Sim, claro, há também a história do protagonista "principal", Guilherme Weber, do filme e sua viagem interna às suas raízes. À uma cidade da qual ele saiu quando tinha 5 anos e aonde não conhece ninguém. Mas todos o conhecem, pois ele é o "homem do tempo" da televisão e todos os dias entra na casa de seus habitantes.

E é claro que ele também protagoniza uma "viagem" lisérgica, dessa vez providenciado por Zé Elétrico e um chá de sei lá o quê.

Lirinha, o vocalista do grupo Cordel do Fogo Encantado também não sai incólume da "viagem", como ajudante d' "O Velho". Se normalmente ele já tem cara de maconheiro, falas de maconheiro, jeito de maconheiro, imagina nesse filme!

Pensa que acabou?

Pedra do Elevante Semi-Enterrado de um lado, Pedra do Cachorro Sentado de Costas do outro, forquilhas para procurar água, vingança pela morte do patriarca da família, extermínio dos índios, plantações de maconha (numa alusão a Sonhos (90), de Akira Kurosawa, e a um clipe de Legião Urbana), bares em beira de estrada, seitas comandadas por um maluco... cabe de tudo um pouco nessa maravilhosa viagem. Ops! Nesse divertidíssimo filme.


B+
Árido Movie (Lírio Ferreira, BRA, 2005)
Quando: ago/06 (Cinema do Parque)
Site Oficial: http://www.aridomovie.com.br

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