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ZUZU ANGEL

Quem é essa mulher / que canta sempre esse estribilho? / Só queria embalar meu filho / que mora na escuridão do mar.


Ser crítico de cinema não deve ser fácil. Deve ser difícil se deixar envolver por um filme quando se está mais preocupado com o timming do roteiro e da direção ou então com a iluminação, com o som etc. Talvez por causa disso, os especialistas não teceram muitas críticas favoráveis ao filme.

O meu intuito aqui será fazer algo diferente, pois a história me tocou e eu vi o filme num único fôlego. Quando dei por mim, já estava escutando a canção de Chico Buarque no toca-fitas do carro semi-destruído de Zuzu.

Para quem não conhece a história, Zuleika Angel Jones (1921-76), a Zuzu Angel, era uma famosa estilista de carreira internacional que teve a sua vida virada pelo avesso quando o filho, Stuart Angel, foi preso, torturado, morto e teve o seu corpo jogado ao mar. Antes uma alienada estilista e dona de boutique que costurava vestidos coloridos para as esposas dos generais, Zuzu se transforma com o desaparecimento do filho e o filme é bem sucedido ao retratar a diferença entre a alienação anterior e o engajamento posterior, com suas coleções de tons sombrios, com pássaros enjaulados e anjos feridos.

Ponto para o diretor e para os atores, pois os globais de plantão não parecem estar atuando nas novelas televisivas. Você até consegue esquecer seus rostos e seus trejeitos, especialmente Luana Piovani, que interpreta a compridona e tresloucada Elke Maravilha e está presente numa cena interessantíssima aonde traduz para a protagonista, Patrícia Pilar, a canção que a verdadeira Elke e seus figurinos espalhafatosos canta em russo.

Zuzu não deu sossego aos milicos, tanto que foi silenciada em um "acidente" automobilístico. Infelizmente, a ditadura militar acabou somente 9 anos após a sua morte, depois de uma abertura "lenta, gradual e constante" implementada a partir de 1975 pelo "presidente" Geisel.

Eu me lembro de ter ficado chocado quando vi, ainda pré-adolescente, Pra Frente Brasil (83). Me perguntava se era possível que "eles" tivessem feito tudo aquilo com o personagem de Reginaldo Farias só porque ele dividiu um taxi com um "comunista".

Hoje, eu sei que sim, "eles" fizeram tudo aquilo e muito mais. Agora, basta torcer para que esse filme se torne um blockbuster tupiniquim para que as novas gerações saibam o que fizeram nesse país com várias e várias pessoas.

E que um dia a gente ainda consiga escorraçar os nomes dessa corja de nossas pontes e nossas avenidas.


B-
Zuzu Angel (Sérgio Rezende, BRA, 2006)
Quando: Ago/06 (UCI Recife)
Site Oficial: wwws.br.warnerbros.com/zuzuangel

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