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BROKEBACK MOUNTAIN

Mais um filme de amor?


Mais um daqueles filmes complicados de se analisar. Tive até mesmo dificuldade em escolher a foto dessa resenha (a alternativa era essa aqui). Especificamente, a complicação teve dois motivos principais: (1) todo mundo já escreveu sobre ele e a minha proposta aqui é sempre fazer algo "diferente" e (2) eu não consegui ver o que a maioria enxergou. Bom... não na mesma intensidade.

Eu sempre fiz cara feia para filmes que fazem questão de exaltar que são feitos por ou para ou de ou qualquer outra coisa relacionada aos gays. Esse aqui, tem como "mote" a infame definição propagada de o filme dos caubóis gays.

A história, centrada em Ennis Del Mar (Heath Ledger), conta como ele veio a conhecer Jack Twist (Jake Gyllenhaal) na montanha de Brokeback, quando ambos pastoravam ovelhas em 1963. Numa determinada noite gelada, após uma bebedeira, o "calor humano" falou mais forte e os dois, como se diria hoje em dia, "ficaram". No dia seguinte, Jack queria mais, só que Ennis, com toda a brutalidade que a sua vida tinha sido até então, o rejeita.

O trabalho termina, cada um vai para o seu lado e aí descobrimos que Ennis fica puto com a separação, mas prefere o "certo" e seguro (o casamento marcado com Alma) do que o "errado" (seguir seus sentimentos e ficar com Jack). "Dois homens morando junto é errado", conta, perto do final do filme.

Culpar a sociedade e os costumes da época é muito fácil. Mas é muito mais difícil culpar Ennis. Ele realmente tem culpa de ter o comportamento que tem? E se seu pai não o tivesse levado, quando criança, para ver o corpo carbonizado e castrado de um cara que morava com outro cara, mostrando o que acontecia com quem fazia aquilo? Se os pais não tivessem morrido quando ele era jovem, se os irmãos não tivesses se casado e deixado claro que ele não fazia mais parte de suas vidas, ele teria como encarar a situação de outra maneira? Ele teria dito a Jack o que faziam "com gente como ele (Jack)" no México?

Culpar quem, então? Jack, por ter idéias "absurdas", segundo o seu pai?

Voltando ao filme, Ennis tem duas filhas e sobrevive com trabalhos braçais e esporádicos, ora num rancho, ora recapeando uma rodovia. Jack, tenta a sorte nos rodeios e conhece Laureen, com quem se casa, tem um filho, abandona os rodeios e vira vendedor de colheitadeiras na loja do sogro.

Quatro anos depois, eles se reencontram. A chama não tinha se apagado e, desde então, esporadicamente, eles voltam para onde se conheceram, a Brokeback Mountain, para reviverem aquela época, para escaparem às convenções sociais que eles se impõem. Nesse caso, a natureza surge como a volta ao primitivismo, aos instintos primitivos. Em Brokeback Mountain, eles são o que realmente são. Eles fazem o que realmente querem fazer. Eles sentem o que realmente sentem um pelo outro.

Não há cenas escandalosas (a mais "explícita", dentro da barraca, é providencialmente feita na penumbra da noite). Há a crítica ácida ao conservadorismo como muito lirismo, onde a trilha sonora surge no momento certo, para te levar a um outro estado de espírito. Há também uma crítica àqueles que preferem se matar em vida para serem o que os outros querem que eles sejam.


B+
Brokeback Mountain (Ang Lee, EUA, 2005)
Quando: Fev/06 (UCI Recife)
Site Oficial: www.brokebackmountain.com

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