.
.

A PASSAGEM

"Os budistas sempre tiveram razão. O mundo é uma ilusão."


Impressionante como a bagagem humanista adquirida pode mudar completamente a leitura que a mesma pessoa faz da mesma obra cultural. O texto abaixo foi escrito há seis anos. Decidi mantê-lo intacto para poder contrapô-lo às conclusões nas quais cheguei após essa primeira revisão de A Passagem.

Dessa vez, a edição me incomodou um pouco, assim como alguns diálogos, mas a mensagem final é a que vale. Ela está lá em cima: é tudo uma grande ilusão. Você já sabe intuitivamente da verdade, mas você pode, conscientemente, decidir permanecer na ilusão. Porém, num determinado (e único) momento, a verdade é jogada na sua cara e aí é dado a você o livre arbítrio para aceitá-la ou continuar na ilusão. Caso você decida pela segunda alternativa, pode acontecer o que aconteceu com Henry, que recriou sua "realidade" a partir dos fragmentos daqueles últimos 5 minutos. Pode acontecer, pois quem disse que eu sou o dono da verdade? Para mim, o mundo é, realmente, uma grande ilusão e a vida de cada um é moldada de acordo com suas crenças. A minha, é essa. A sua, depende de suas experiências..

*

O que é real?

Já escutamos essa pergunta antes, em filmes como Matrix (99), Cidade dos Sonhos (01) e Vanilla Sky (01), por exemplo. Neste filme, ela é feita pelo perturbado Henry a seu novo psquiatra, Sam, que o aceita após o colapso nervoso de sua colega. Logo após, Henry confidencia que vai tentar se matar ao completar 21 anos, três dias depois. Isso pertuba Sam, pois seu caso é bem próximo ao de uma ex-paciente sua, Lila, que agora vive com ele.

Essa é a sinopse básica do filme e juntamente com o desejo de ver Naomi Watts e a esperança de que Ewan McGregor tivesse se recuperado como ator após seus últimos fiascos [A Vingança dos Sith (04) e A Ilha (05)] era tudo o que eu sabia antes de entrar na sala de cinema... atrasado de novo (deve ser alguma mandiga de alguém comigo e com o Multiplex do Mag Shopping).

Depois do realista A Última Ceia (02) e do fofinho Em Busca da Terra do Nunca (03), Marc Forster engrenou um caminho ultra-perigoso: um filme cabeça. Ou melhor, um filme quebra-cabeça, pois as peças estão todas lá para quem se dispuser a pescá-las e montá-las.

Infelizmente, como Marc Forster não é nenhum David Lynch, há uma sucessão de eventos surreais, "premonições" certeiras, confusão entre sonho/realidade & etc que vão se sucedendo até que na metade do filme você começa a se perguntar onde foi que você viu algo assim (algo do tipo "mamãe, eu falo com fantasmas"). Felizmente, a edição, a fotografia, o roteiro e a trilha sonora são excelentes e você se recusa a acreditar que está vendo a mesma história de O Sexto Sentido (99).

Num dado momento, você já está notando as pistas espalhadas pelo filme e elas começam a se juntar. Infelizmente, eu percebi tarde demais e mais da metade delas se perderam, mas eu consegui chegar à uma conclusão, que ficou mais clara na medida em que eu pesquisava na internet para escrever essa resenha.

Bem, essa é a hora em que eu previno que vou contar a minha impressão sobre o filme e que ela pode estragar a "viagem" de quem ainda não foi vê-lo. Eu avisei...

Henry realmente morreu naquele acidente, mas, quando estava sendo ajudado pelo médico (Sam) e a enfermeira (Lila), "viajou" toda a história do filme, montando-a com as pessoas que estavam presentes à sua volta. Ele recebeu os primeiro socorros de Jeanine Garofalo (que eu amo de paixão) e depois, a ajuda é transferida ao casal Sam/Lila. Ele estava confuso, pensando que ia morrer, por isso pediu ajuda ao psicólogo, de quem tinha como referência, as calças arriadas. Ele também se identifica com a enfermeira que tenta ajudá-lo, moldando para ela um passado e um presente próximo ao seu. A mãe, eu acredito que estava lá pois ele "pensava" que tinha matado todos no acidente, mas não tinha certeza. Quando teve, ela começou a sangrar, bem como a cegueira do pai, que passou a ver tempos depois. Quando ele começa a sangrar, depois que a cidade inteira para e começa a encará-lo, ele tomou consciência de que a hora dele tinha chegado. (P.S. de 2012: A mãe e a noiva de Henry estavam em suas próprias ilusões, assim como o pai, mas este último só até ser "curado" de sua cegueira).

O mais engraçado foi, saindo do cinema, escutar "rapaz, o cara fumou um beck pra fazer esse filme, eu não entendi foi nada".


B+
(mesma nota)
Stay (Marc Forster, EUA, 2005)
Quando: Janeiro/06 (Multiplex Mag Shopping) // (Revisão: Fevereiro/12)
Sítio Oficial: staythemovie.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...