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ALÉM DA VIDA

O que há "além daqui"?


Em Além da Vida, Mr. Eastwood procura responder à pergunta que mais intriga a humanidade desde que ela tomou consciência de sua mortalidade: o que acontece quando morremos? Dessa forma, somos apresentados a três personagens, um médium estadunidense que considera o seu "dom" uma maldição, uma jornalista francesa que sobreviveu à tsunami que atingiu a Indonésia em 2004 e um garoto inglês, que não suporta a vida após a morte de seu irmão gêmeo.


Como ocorre normalmente em um filme de histórias que ocorrem em locais dispersos, nem todas as três têm o mesmo ritmo. Pessoalmente, fiquei menos interessado pela história do menino, fiquei indiferente ao drama do médium e só queria saber sobre as descobertas da jornalista francesa. Identificação pura e simples. Infelizmente, é apenas na dor que encontramos a motivação suficiente para mudarmos. Uns partem para fé pura e simples, entram na "zona de conforto" e se esquecem. Como ela, eu saí pesquisando. Encontrei muitas das respostas que buscava, que trouxeram ainda mais perguntas (que estão longe de serem respondidas). Marie Lelay, recebeu o seu chamado para o despertar e por mais que ela tentasse levar a mesma vida que levava antes (e como ela tentou!), não conseguiu (é impossível voltar). Ela precisava descobrir o que tinha acontecido. Ela, conscientemente -- e racionalmente -- fez o seu tratado de fé. Uma fé consciente, que com o passar do tempo passa a ser verdade absoluta, que te leva a uma paz interior inexplicável.

Paz que George Lonegan nunca mais teve depois de sua doença no cérebro quando ainda era criança. Ele fez uma opção: ou tomava pílulas e vivia como um vegetal o resto da vida, ou tentava conviver com a conexão com "o além". Numa cena chave, ele diz tudo: "às vezes, é bom não saber toda a verdade sobre os outros". No mundo espiritual, fora desse envoltório grosseiro que temos, a consciência é o juiz que tudo sabe. Quando nos depararmos com ela em nosso juízo final, precisamos estar preparados para o arrependimento que, fatalmente, virá. Enquanto isso, George ainda precisa aprender a conviver com a sua (autodenominada) maldição, que lhe afasta das pessoas e o obriga a ter uma vida solitária e proletária. (Caso você se interesse em saber, pode ser sim considerada maldição, pois todos temos capacidade mediúnica, basta treinarmos; aqueles que tem uma mediunidade forte, têm uma dívida muito forte com a espiritualidade e ela vem para ajudá-los a saldarem essa dívida rapidamente).

Já Marcus, apesar de protagonizar o segmento mais dramático de todos, sai desesperadamente atrás de respostas. No meio do caminho, ele depara com todos os tipos de charlatães que exploram a fé alheia e só consegue paz quando, perto do fim (não se preocupe, não é spoiler), todos os três se reúnem numa feira de livros em Londres. Pode chamar de acaso/coincidência, mas, citando um outro inglês, há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia. Na minha modesta opinião, o que tiver que ser, é.

O saldo final é que Mr. Eastwood não deixa nada mastigado. Ele, no mínimo, planta a semente da dúvida ao trazer o tema ao debate. Cabe a você decidir o que fazer. E olha que ele nem precisou mencionar Deus em nenhum momento do filme.


A
Hereafter (Clint Eastwood, EUA, 2010)
Quando: Janeiro/11 (Box Guararapes)

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