Porque eu acredito.
Nosso Lar, o filme, é baseado numa obra psicografada por Chico Xavier e narra a trajetória e as impressões do médico André Luiz sobre a vida após o desencarne. É preciso deixar isso bem claro: você não é obrigado a acreditar. Nem é obrigado a aceitar cegamente, pois, repetindo, tudo o que é visto é de acordo com as impressões do médico André Luiz, um espírito sujeito a falhas como eu e você. Nesse sentido, não é doutrinário (a doutrina espírita é apenas os 5 livros codificados por Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, A Gênese, O Céu e o Inferno e O Evangelho Segundo o Espiritismo) e muito menos panfletário. É apenas uma história como outra qualquer de acordo com o ponto de vista de alguém escrita para fins de divulgação. "Uma obra de ficção"? Não necessariamente. Prefiro dar-lhe o benefício da dúvida.
Sobre a parte técnica, ou seja, enquanto obra cinematográfica, Nosso Lar é muito ruim. Apesar de super bem produzido (não fazem a menor questão de esconder que foram torrados R$ 20 milhões), falta coesão. Parece mais uma colcha de retalhos ajuntada do que um roteiro com começo, meio e fim.
Extremamente didático em muitos pontos e extremamente truncado em tantos outros, dizem que o objetivo era divulgar uma lição de vida para todas as pessoas, mas o resultado final será completamente diferente. A mensagem acabará dirigida apenas aos que acreditam e que têm alguma iniciação no assunto e nem a melhor política de marketing será capaz de ajudá-lo (apesar dos recordes de público). Culpa do roteirista-e-diretor que tinha um história riquíssima nas mãos e se mostrou incapaz de mostrá-la além dos lugares comuns.
Você acha que André Luiz foi parar no umbral por causa de uma vida frívola e “pecaminosa”? Errado. Ele foi parar lá porque ele se suicidou inconscientemente, pois ele fumou, bebeu e comeu em excesso a vida inteira e morreu em decorrência desses excessos antes do programado. A sobrinha de Lísias passou pouco tempo no mesmo umbral (pois a hora programada dela tinha chegado), mas ela se recusava a acreditar (ou se desvencilhar da matéria, como queiram). Foi por isso que ela voltou ao umbral. Enfim, resumir todas essas implicações em um parágrafo não é fácil e acredito que o roteiro não deve ter sido de fácil elaboração, mas eu tenho medo de cineastas-e-roteiristas. Apenas alguns poucos conseguem ser bons nas duas áreas. Custava uns 30 segundos de didatismo sobre o suicídio de André Luiz? Mais um pouco não faria tanta diferença.
Meu primeiro contato com Nosso Lar, o livro, aconteceu há 3 ou 4 anos, após mais uma reprise da novela A Viagem (que é baseada no livro e que eu vi pela primeira vez). Comecei a leitura por pura curiosidade. Achei engraçado toda a burocracia ("bônus-hora", ministro disso, ministro daquilo, hora para isso, hora para aquilo etc), mas hoje eu entendo os vários porquês, que no filme são apenas jogados ao vento e, uma vez ditos, nunca são retomados. Só para tentar esclarecer sem entrar em muitos detalhes: sabe aquela história de gravidez não planejada? É balela. Você escolheu seus pais, eles te escolheram e todos concordaram com o momento exato da fecundação. Antes de reencarnar, o espírito programa toda a sua vida. Não necessariamente vai acontecer conforme a programação, pois todos estamos sujeitos ao livre arbítrio dos demais, mas já está tudo previamente estabelecido e para gerenciar tudo isso, é preciso uma estrutura organizacional e trabalho, muito trabalho. Se você acha que você trabalha muito por aqui, nem queira saber quando chegar lá "em cima".
Que não é "fisicamente" a tantos kms da crosta terrestra. As colônias espirituais estão em outra dimensão e não vou tentar explicar, pois essa parte eu ainda não entendi direito. Quero apenas fazer um último esclarecimento: o espírito é energia (que está contida na materialidade do corpo). Ele não precisa se alimentar (a sopinha e a água só existem porque você se habitou a comer para alimentar o seu corpo e a transição matéria/energia não é fácil, o cache de sua memória ram não é imediatamente apagado). Já que é energia, pode assumir a forma que quiser (apesar de que, logo após o desencarne, o espírito dificilmente conseguirá assumir outra forma senão aquela a qual ele está "acostumado") e de "trocar fluídos" (a luzinha verde).
São outras leis que regem o plano espiritual. Leis que não temos a menor condição de compreender com os conceitos que temos a mão aqui nesse plano de existência. Podemos apenas ter alguma noção a respeito. Essa é falha mais gritante do filme. Ele toma tudo como verdade e quer que o público cético aceite sem maiores explicações. Eu me incomodei com as atuações amadoras de muitos atores e as soluções gráficas e de roteiro extremamente simplistas para vários aspectos (mas gostei dos diálogos). Aquele umbral light (no livro é muito mais pesado) só não é pior do que aquele subúrbio carioca de cores berrantes ou a forma com que caracterizou a descrença da sobrinha de Lísias. Ela não foi resgatada pela segunda vez do umbral "porque rezou e se arrependeu". O resgate ocorreu no momento em que ela finalmente tomou consciência.
Eu só lamento a péssima qualidade do filme, mas se ele servir para o despertar de meia dúzia, já vai ter valido a pena. O correto não é "nunca é tarde para se recomeçar" (simplista!), mas sim "cedo ou tarde, você vai despertar". Ficou curioso? Leia o livro, não deve custar mais do que R$ 20. A história de Nosso Lar, o livro, é linda e muito mais rica do que a mostrada no filme (como toda adaptação livro-cinema). Ficou mais curioso ainda? Compre outro livro ou pesquise na internet, informação é o que não falta. Quando você se sentir preparado, passe para um dos 5 livros doutrinários (mas só se você se sentir preparado, pois eles não são de fácil leitura).
Eu só lamento a péssima qualidade do filme, mas se ele servir para o despertar de meia dúzia, já vai ter valido a pena. O correto não é "nunca é tarde para se recomeçar" (simplista!), mas sim "cedo ou tarde, você vai despertar". Ficou curioso? Leia o livro, não deve custar mais do que R$ 20. A história de Nosso Lar, o livro, é linda e muito mais rica do que a mostrada no filme (como toda adaptação livro-cinema). Ficou mais curioso ainda? Compre outro livro ou pesquise na internet, informação é o que não falta. Quando você se sentir preparado, passe para um dos 5 livros doutrinários (mas só se você se sentir preparado, pois eles não são de fácil leitura).
Sobre a falta de clímax para a história, volto ao debate crentes x céticos (usado apenas para contrapor um ao outro). Reconheço que o roteiro falha ao se resumir a uma mera descrição (por si só, falha) e que se você não "comprar a ideia", a história será enfadonha, mas na minha percepção, houve vários clímax. Vários. Foram tantos que eu nem senti as 2h da projeção passarem e apenas comecei a lamentar quando tomei consciência que o filme se encaminhava para o fim. Uma pena.
E que foi difícil sair da sala do cinema, ah, isso foi.
Nota (Dez/11): Um ano e quatro meses depois de ter visto esse filme, minha persepção do mundo mudou bastante, mas preferi não alterar o que escrevi. Se fosse assim, daqui um ano terei que voltar para alterar, pois se há algo nessa vida da qual tenho certeza absoluta é que não há verdades absolutas. Tudo muda. Ainda bem!
Nota (Dez/11): Um ano e quatro meses depois de ter visto esse filme, minha persepção do mundo mudou bastante, mas preferi não alterar o que escrevi. Se fosse assim, daqui um ano terei que voltar para alterar, pois se há algo nessa vida da qual tenho certeza absoluta é que não há verdades absolutas. Tudo muda. Ainda bem!
A
Nosso Lar (Wagner Assis, BRA, 2010)
Quando: Setembro/2010 (Box Guararapes)
Sítio Oficial: nossolarofilme.com.br
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