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A FONTE DA VIDA

Um lindo poema sobre a vida e a aceitação da morte.


Depois de muito tempo vendo um filme com o nome Pi (Pi, 97) na minha locadora de dvds, resolvi retirá-lo para ver sobre o que se tratava. Achei meio sem propósito a história sobre um cara anti-social obcecado por números, mas depois que vi Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream, 00) achei que deveria dar uma segunda chance ao filme de estréia de Darren Aronofsky, algo que estou devendo até hoje.

Para a minha surpresa, o terceiro filme do diretor, que foi muito aguardado por mim, estreou em Recife e depois de perder os primeiros 15 minutos tentando não surtar com a horda de adolescentes que só falavam "não estou gostando desse filme" ou "não estou entendendo nada" e riam quando Hugh Jackman careca fazia a posição de meditação, foi somente quando uma fileira inteira se levantou e foi embora que eu pude finalmente me concentrar.

O que continuava difícil, pois eu não conseguia ver o propósito do filme. Vamos ao roteiro básico: Tom (Jackman) é um cientista que está obcecado em encontrar a cura do câncer. Ele luta contra o tempo, pois sua mulher, Izzi (Rachel Weisz), está morrendo. Eventualmente, ele encontra a cura através de uma árvore única, encontrada na Guatemala, mas é tarde de mais. Izzi morre e deixa incompleto seu último livro, "The Fountain". O livro é sobre um conquistador espanhol que parte para o recém descoberto continente com a missão de encontrar a árvore da imortalidade a pedido da própria rainha da Espanha. Antes de morrer, Izzi pede ao marido que termine o livro. Para completar a salada, tem um cientista que viaja pelo espaço dentro de uma bolha junto com a tal árvore da imortalidade ruma a Shabala, uma nebulosa que, segundo os Maias, foi onde a vida começou.

Essas três histórias são vividas pelo casal de protagonistas e, essencialmente, conta uma única história: a busca sobre a aceitação da morte como parte da vida. A obsessão de Tom em encontrar a cura do câncer vem do fato de morrer de medo de perder a mulher que ele ama. Izzy, chegou a ter medo, mas depois ela aceitou o fato de estar morrendo e nos conta uma lenda maia, sobre um nobre guerreiro que foi enterrado. Uma semente de uma árvore acabou caindo sobre o seu túmulo e germinando. A morte gerando uma vida [detalhe: foi nesse momento que eu fui "capturado" pelo filme]. O mesmo "paradoxo" é visto no mito de Shabala, que é uma nebulosa, ou seja, ela é o resultado da morte de uma estrela. O símbolo da vida de um povo e, na verdade, conseqüência de uma morte.

O que eu escrevi no parágrafo acima é a minha interpretação da história. O filme me capturou simplesmente porque ele permite que você faça sua própria viagem e que ela seja única. Há tantas pontas soltas que você é total e completamente responsável por fechá-las de acordo com as suas crenças pessoais. Se você acreditar, vai amar. Caso contrário, vai ficar do lado daqueles que odiaram o filme (e não foram poucos pelas críticas que li).

Se Aronofsky é um trambiqueiro e esse filme é um embuste, então eu caí direitinho. Se tem algo que eu amo no cinema, é assistir a filmes que me fazem pensar e não chegar a nenhuma conclusão definitiva. Escrevi essa resenha no dia seguinte ao que vi o filme, revisei dois dias depois, publiquei e até agora estou pensando nas idéias que ele enfiou na minha cabeça. Estou, particularmente, relembrando a viagem psicodélica logo após o encontro da bolha com Shabala, que foi entrecortada pelo descobrimento do conquistador da árvore da vida eterna. Uma boa seqüência visual.

E agradeço, mais uma vez, por não ser um crítico frio e analítico, buscando desesperadamente simbolismos ou clássicos para poder compará-los, citando o filme em questão como "um Kubrick piorado", por exemplo.


B+
The Fountain (Darren Aronofsky, EUA, 2006)
Quando: Novembro/06 (UCI Recife)
Site Oficial: thefountainmovie.warnerbros.com

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